Moçambique: Custo de guias de marcha irrita a população devastada pelo terrorismo

Mapa do distrito de Nangade, província de Cabo Delgado, Moçambique

Mapa do distrito de Nangade, província de Cabo Delgado, Moçambique

Cada guia custa 100 meticais, muito alto para quem nem comida tem, dizem os deslocados

A reintrodução, semana passada, de guias de marcha para circular em Nangade, na província de Cabo Delgado, está a provocar um desconforto entre a população, sobretudo dos deslocados dos ataques de terroristas, que consideram a medida descabida, uma vez que enfrentam várias dificuldades.

Your browser doesn’t support HTML5

Moçambique: Custo de guias de marcha irrita a população devastada pelo terrorismo

“Nos postos de controls (militares) por onde passas sempre perguntam guia de marcha, que é uma declaração passada pelo secretário do bairro (de origem)”, disse à VOA Abu Algy, um morador de Nangade, que considera a medida eficaz para evitar a infiltração de homens armados, mas com custo elevado para quem se desloca em busca de meios de sobrevivência.

A sua emissão do referido documento, disseram à VOA vários moradores locais, é mediante o pagamento de um valor de 100 meticais por viagem (um dólar e meio), um valor que está a ser contestado por ser demasiado alto para uma população que enfrenta dificuldades para se alimentar.

Veja Também Cabo Delgado: Deslocados acusam alguns elementos do exército de extorsão para facilitar escolta

“Cem meticais é um valor muito alto, o valor que já se tinha determinado era de 20 a 50 meticais, mas há secretários que estão a desvirtuar”, disse à VOA um outro morador na condição de anonimato.

Os nossos entrevistados disseram que as pessoas encontradas sem as guias são punidas com chicotadas e trabalho forçado.

Tomada de bases de Chai

Uma fonte do governo local, sem gravar entrevista, disse que militantes de grupos que atacam a província de Cabo Delgado conseguiam “furar” os postos de controlo militar, montados ao longo de várias estradas da região, mediante a exibição de bilhetes de identidade e movimentavam para reabastecer as suas bases, justificando por isso a medida.

Veja Também Forças da SADC anunciam a destruição de duas bases e a morte de 14 insurgentes em Moçambique

Entretanto, A força conjunta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral anunciou a captura de duas bases em Chai, situadas no topo de montanhas no distrito de Macomia, tendo apreendido diverso material bélico.

Um comunicado daquela força diz que entre o material confiscado constam armas do tipo metralhadoras PKM, AK47, lançadores RPG 7, e granadas.

A província de Cabo Delgado é desde 2017 alvo de ataques de terroristas ligados ao Estado Islâmico. Há registo de cerca de 3100 mortes e, pelo menos, 800 mil pessoas deslocadas.